quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Encontro com/de Gentilezas


As vias não se movimentam como de costume.

O dia é especial.

Você, Gentileza e eu.

Paredes, telas, grafites e vidas.

Caminho encurralado,

Você acuado!

Diálogos, medo e proteção...

As fotografias se tornam meros registros,

Foram nos painéis de Gentileza que decifrei fragmentos de ti.

Cheiro de Milho


Amanhece!

Parece mais uma trivialidade cotidiana.

Abrir o pacote,

Encharcar,

Preparar a massa,

Dosar o sal...

Água a ferver... Você a me inebriar.

E até o cheiro matinal do milho no cuscuzeiro me faz lembrar você.

Conjugação em Desencontros


A voz talvez não saia no momento certo.

O eco poderá não encontrar uma caixa de ressonância.

O amor é este verbo de conjugação em desencontros.

Carinhos em Meias Palavras


Sim!

Às vezes me exerço em meias palavras,

Mas não é necessário me entender.

Gravo alguns dos teus carinhos nos meus tímpanos...

Carinhos que pode ser que nem lembres mais,

Mas não importa!

Já estão gravados.

Podem ser tolices e idiotices,

Não precisa se vincular...

Só regam a mim.

Sigo...


Sigo com a cara vermelha,

De tom cobreado.

Sem Maomés ou Cristos,

Jogo-me de cara lavada,

Sem medo de ser feliz!

Acarajé com Tapioca


Parece uma mistura estranha,

E realmente é!

Mas aqui há lugar pra tudo.

Ou supostamente...

Teorias do direito,

Fundo de pasto, quilombolas, indígenas...

Aqui sobram assuntos de libertinagens e revolução.

Transitamos entre Maquiavel, Marx e Butlher.

Exercemos a cordialidade,

A dissimulação...

Enclausuramos as raivas,

Tapamos os ouvidos,

Fechamos os olhos,

E vamos seguindo...

sábado, 3 de novembro de 2012

Cansaço


Ando me cansando...
Tenho me cansado de corpos, de ódios e amores.
É esta minha metamorfose, reinventar-me no cansaço!
Quero a rua, quero o prazer, quero as músicas, os livros. Quero tudo e não quero nada!
Quero meu quarto com o cheiro de livros. Quero-o escuro! Sem brilho, opaco. Quero-o somente comigo!
Não quero fechar a porta! A fechadura não precisa estar quebrada, quero que ele fique assim, aberto! Mas não entre! Quero ficar sozinho!
Minha cama me basta, meus lençóis me aquecem...
Ando cansado de tudo!
De santidades e revoluções!
Quero ficar aqui, só aqui...
Entre meus livros e escritos; fotografias, lembranças; Ney, Caetano e Bethânia!
Quero ficar sozinho, somente isto!
Poderíamos adiar o reencontro. Mas como fazer isto sem adiar a vida? Como congelar o tempo sem dilacerar os corpos?
Eu poderia correr, poderia fugir...
Posso me embriagar, e o vinho não dará conta de tudo. Tem certas coisas e espaços que o vinho nada pode fazer.
A pista parece ser minha. Ela é só minha! Não vejo mais ninguém. Apenas as luzes que não me levam em lugar algum.
Sem luz me sobra a bebida da madrugada. Sobra-me o estranho que insiste em me acompanhar... O estranho nada pode fazer, apenas me devorar.
Quero ficar sozinho... Sem você, sem nada!
Sem mensagens, sem telefones. Estarei bem, eu sempre fico bem!
Não darei gritos e nem cairão lágrimas. O sorriso estará estampado.
Poderei me enganar no cotidiano. Nos escritos, nas poesias e nas músicas.
Mas o que é a vida senão um auto enganar-se?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma ligação inesperada


A noite estava tranquila e quente como a maioria das noites em Aracaju. Encontro-me na sala, no meu lugar cativo, sentado com os pés em cima do sofá diante do computador. No chão, livros e textos avulsos em meio às almofadas. Na janela, as estrelas aparecem gradeadas, e eu as contemplo num ir e vir do sofá.

Por um momento penso que estou sozinho no apartamento, mas logo escuto o barulho no quarto ao lado, e o cheiro de sexo entra em minhas narinas. Concentro-me na escrita de mais um artigo e deixo tudo passar. A vida acadêmica tem sido minha a melhor companhia.

Tudo parece muito calmo novamente, sem barulhos e cheiros. Reinando apenas os livros, a escrita e eu.

O celular toca e é você. Você que some e de tempos em tempos reaparece ao perceber que não ligarei, que não o procurarei. Mas que sentimento é esse que lhe faz autoflagelar diante de mim? Por um momento, ao olhar o teu nome no visor penso se devo atender ou não. E me pergunto: O que seria mais desastroso, atender ou não atender? Atendo e você vem com a voz mansa, perguntando como estou, se estou bem. A conversa parece tomar um rumo comum, sem muitas novidades e exageros, mesmo você insistindo em me dizer que estás bem, que estás namorando, que te encontras feliz.

A conversa poderia acabar ali, você me dizendo que está feliz. Mas você insiste em me dizer mais, você quer colocar pra fora o que ainda está guardado em ti. Eu lhe provoco e você começa a externar o lacrado, o indizível e o sentido.

Eu lhe permito falar de amor, e você arvora a dizer como se só você soubesse falar deste sentimento que nos idiotiza, fragiliza e que nos torna humano. Você vai mais longe e diz que nunca amei ninguém, que sou frio e calculista, agindo sempre pela razão. Mas o que você sabe falar sobre o meu amor? O que você pode dizer sobre a minha dor? Carrego meus amores nas entranhas sem um útero fecundado.

Por hoje não basta, você quer falar mais. Quer gritar ao mundo que me odeia e pede ao teu deus que livre o mundo do meu amor. Mas você não é mundo, e que teu deus apenas te livre de mim.

Você é provocante, e eu respondo com risadas e sarcasmo. Falo-te de nossas transas e vou jogando com você. O amor também é jogo! O tabuleiro está virando e você já se encontra rendido. Rendido pelas lembranças do meu cheiro, do meu toque, dos meus beijos e do meu sexo. Mas eu quero ouvir mais, agora estou no controle, puxando as cordas. Vai, diga que você me quer, que me deseja e que minha lembrança lhe persegue.

Você não resiste, sinto teu corpo tremer do outro lado da linha. Você me quer e diz com todas as letras me chamando de cafajeste. Mas o que é o amor senão este sentimento que nos idiotiza e nos torna cafajeste?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entre cor, cheiro e sabor.


Num apartamento em meio a tantos, no décimo terceiro andar de um edifício em Laranjeiras, a chama se acende com suas labaredas azuis e vermelhas, esquentando bocas, ferros e partilhas. A cozinha se torna aconchegante e as panelas parecem pedir para serem tocadas e acariciadas. Todas querem celebrar conosco. É mais um reencontro!

Lá fora, os carros cortam o asfalto, e pessoas caminham freneticamente, carregando sonhos, desejos e vontades. Por aqui, observo suas mãos com movimentos rápidos que insistem em fazer tudo sozinho, e logo a cebola é picada sem lágrimas, misturando-se ao cheiro do alho e do pimentão, em meio ao barulho da panela que já canta no fogo. No som ao fundo, um tenor nos acompanha, marcando ritmos e compassos. Que deslizam no óleo quente a fritar os condimentos.

A calabresa já está cortada, esperando o momento certo de sua fecundação, com uma pitada de sal. Poderia faltar tudo, mas sobraria a alegria, a felicidade e o contentamento do reencontro. “Sempre haverá um cantinho para você se jogar!”

Sem vinho, ou com vinho; na sacadinha, ou no quarto. De frente, ou de costas para o Cristo; sempre haverá o reencontro. Nossa amizade tem cor, cheiro e sabor. Impossível preparar berinjelas e lentilhas sem lembrar de “Ti”.

 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Bilhete não Entregue

Como foi bom reencontrar-te, estar contigo, dormir... expressar em palavras o quanto és especial.

Sair do meu mundo cartesiano e dizer que te adoro, te quero e te amo me torna mais humano.
Chamo isto que sinto de amor. Na verdade não consigo conceituar, só sinto mesmo. Mas o que sinto se assemelha muito com o que conceituaram de amor.
Talvez nos encontraremos daqui a pouco, daqui a dias, anos, ou não nos encontremos mais. Contudo, penso que sempre estarás em mim. Guardo comigo cada sorriso, toque, cheiro, fala, gozo... Guardo cada momento. Obrigado por me deixar mais humano. Amo-te!

Primavera de 2011, Niterói- RJ

Estamira

E ela veio assim ao mundo, fecundada entre Deus e o Diabo. Fruto do amor entre os dois. Aos nove anos, menina franzina, pernas cinzentas e cabelos esvoaçados, teve seu hímen rompido pelo membro de seu pai. No mergulho do teu pai em seu corpo a infância foi ceifada e logo sua meninice se transformou na formosura do prostíbulo.

De menina à quenga, mulher da vida. Cheiro de alfazema misturado ao cigarro barato; cachaça e conhaque para acalmar a alma e tornar a menina obscena. Abre porta e fecha porta, no colchão empoeirado, sob lençóis úmidos de gozos e o odor da borracha dos preservativos gastos e outros jogados ao chão pela recusa e o pagamento maior dado pelo cliente. E ali ela se fez mulher, se fez Eva, Maria, Marta, Madalena... Fez-se Estamira.
O bordel foi a escola, espaço de diálogo, de sonhos, decepções e aprendizados. Sua decodificação e letramento foram além da lingüística, sendo estes contextualizados numa sociolingüística do seu cotidiano. E entre rolas, chanas, paus, cus, pirocas, peitos, bucetas, picas e mamilos seu vocabulário foi se formando. Sua semiótica se deu entre os índices dos olhares, com a leitura dos corpos que volupiavam num vai e vem contínuo entre sussurros, gemidos e desejos sob tua pele.
De tanto abrir as pernas colocou no mundo outros seres. Dizem que são pessoas, gentes, humanos; outros acreditam que são ciborgues. E assim foi seguindo tua sina, tecida entre o trigo e o enxofre.
Nas esquinas do ser, novas paisagens foram se apresentando. E ali está ela, não mais menina, nem mulher. Para muitos um farrapo, para outros uma louca, uma possuída, para ela uma profeta em meio aos lixos. A profeta do Jardim Gramacho. Lixo seu, lixo meu, lixo nosso que se transformou em teu mundo, no teu sustento; Sua nova escola sem bancos, sem quadros e canetas. Novamente uma escola da margem, sem os olhos do estado e com seus saberes particulares. Mas quem tem coragem para construir suas próprias escolas? Para perseguir ou perder a mira? Quem tem coragem para largar o rumo e seguir caminhos contrários? Quem tem coragem para fazer do sêmen do seu pai uma lama fecunda?
Sair da norma, devanear... Será isto a loucura?
Dopou-se com lucidez, e entre um gardenal e um rivoltril rompeu manicômios, destruiu prisões e construiu suas escolas. Matou Deus e se fez sua semelhante, construindo-se como divina. Quem ousa ocupar o lugar de Deus se fazendo santo, profeta e humano?
Em sua ocupação dos espaços divinos sua vida foi seguindo nos entulhos, na ojeriza dos pastores, nos ralos que se misturaram aos calos do teu fazer humano, e de repente se tornou Deusa, se tornou humana, padecendo numa fila qualquer, numa maca qualquer, de um hospital qualquer com um SUS qualquer.
De menina à puta, de puta à Deusa. De Deusa à diabética.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Eu sem mim...

Hoje quando o celular rompeu o silêncio do quarto me despertando às 07h. 00 eu já me levantei sem mim...mas em qual sonho fui parar?

Faltava-me a libido matinal, não precisando me preocupar em consertar o pênis na cueca samba-canção, minha companheira de desejos e segredos das noites solitárias. E não precisava mesmo, o apartamento estava vazio, sem ruídos, sem pessoas... nem eu mesmo estava ali.
A sandália parece não querer encaixar-se no pé, mas meu pé continua o mesmo, não cresceu, não está inchado, preciso que se encaixe, tenho que andar.
Escovar os dentes, descascar banana e comer mamão. Hoje isto já basta! Não tem cuzcuz, ovo frito e muito menos café. Este café já não me satisfaz, não tem mais sabor! Quero café moído na hora e coado num saco, quero cheiro de mim, que também tem cheiro de ti. Mas por agora basta, não há vontade, me falta o tesão.
A velha calça jeans, não muito surrada, mas já desbotada me espera à cabeceira da cama; e mais uma vez me perco na dúvida de qual camisa vestir. Acho que esta ficou boa, parece comigo. Estranho... me sinto apertado. Não, não quero camisa de força, vou sem você!
Diante do espelho tudo fica melhor, está refletido, o espelho não mente. A barba está rala e falhada. Não consigo espalhar, quanto mais minha mão acaricia o meu rosto já quente, mais eu me lambuzo com este líquido branco. E as manchas brancas pelo rosto me trazem à memória fantasias; mas são apenas fantasias, o cheiro do produto não me deixa enganar. É protetor solar e não esperma! Não é seu esperma, nem mesmo o meu.
Chega de fantasias! A rua se abre, a vida chama, pessoas me esperam. Mas onde estou? Hoje não estou em mim, não estou em ti. Onde fui parar?
O dia acabara de começar e o óculos esconde meus olhos, pessoas me olham, falam comigo e damos risadas. Elogios hoje não me envaidecem, não estou em mim. Sou isto tudo não, mas se é o que vocês pensam, obrigado!Sempre acho que sou totalmente o contrário do que pensam de mim... hoje então, não me vejo mesmo, não me encontro.
E já se passaram 300 anos e eu aqui sentado, ouvindo e refletindo Rousseau... os mesmos dilemas, as mesmas dúvidas. O que se fazer com o ser humano?
Não há estética! Mataram a arte, Deus está morto!
Por favor, o que é isto? Estou no ambiente errado? É uma igreja ou uma universidade? Eu devo mesmo não estar em mim.
Eu não estou em mim, e por que você me observa? Por que me fita com teu olhar que me desnuda em teu sorriso caçador? Hoje não estou para caça... não estou no cio, meu cheiro exala ausência.
Seu galanteio me incomoda. Hoje definitivamente não estou em mim. Meu sorriso não é este, e meu olhar é outro. Não, não posso ficar! Não quero ficar. Você não vê? Não estou em mim. Minha existência é lacunar, hoje não estou em mim... e amanhã você poderá não estar também.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Auto-antropofagia

Me situo num vácuo,


Numa ausência.

Me percebo,

Me delineio,

E vou me comendo,

Como num ritual auto-antropofágico...

Vou me rasgando,

Ruminando,

Trocando,

Construindo,

Mãgutando.

SaudArde

E a saudade é isto que Saussure não deu conta de dizer.


Saudade é polissemia.

A saudade queima,

Arde,

Penetra,

Aloja,

Preenche vácuo,

Liberta ausências.

A saudade se sente,

Mesmo quando não se quer mais senti-la.

domingo, 26 de agosto de 2012

Momentos

“O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas”. (Raduan Nassar, 1989, p. 95 em Lavoura Arcaica).




As mãos continuam dadas... mesmo com os quilômetros que nos separam.

Me pego dizendo que não, fugindo das lembranças e fingindo para mim mesmo que tudo não passou de como outros momentos vividos.

Andar por Ipanema, tomar café da manhã juntos, sentar de mãos dadas no ônibus, uma pausa para o café, contar os minutos que parecem não passar para você chegar em casa...Poderia listar outros momentos e como um cilício a cortar a pele dizer: são como outros vividos.

Ainda vejo os raios solares cortarem a janela, as rosas continuam viçosas e seu perfume me entra às narinas trazendo outras memórias olfativas. Me perco no cheiro de tua cama, no talco dos teus pés, nos suores misturados aos espermas de nosso gozo. Me encontro no teu olhar, em teus braços, carícias e no esperma saboreado.

Os momentos são outros, os momentos são nossos. Alguns vividos em museus, sem o crivo e a licença museal dos rótulos e das convenções; outros tecidos nas margens, em viadutos com artes urbanas que certamente não irão chegar por guindastes à Bahia, e muitos menos nas terras sergipanas.

A Bahia e o Rio estão em mim...a Bahia agora está em ti. Com seus tambores e orixás, gingados e malandragens...num por do sol de um porto qualquer.

Os momentos estão em mim, os momentos estão ti...estão em nossa pele, em nossos lábios, afagos, na escuta, no silêncio, no cuidado...



“[...] mas não se questiona na aresta de um instante o destino dos nossos passos, bastava que eu soubesse que o instante que passa, passa definitivamente, e foi numa vertigem que me estirei queimando..., me joguei inteiro numa só flecha, tinha veneno na ponta desta haste, e embalando nos braços a decisão de não mais adiar a vida”. (Raduan Nassar, 1989, p. 103- 104, em Lavoura Arcaica).



Eles (as) não compreendem! “És meu Rio e eu sou teu Salvador”.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Nascituro

Não sei se quando nasci veio um anjo e falou alguma coisa. Só sei que nasci!


Nasci como muitos nascem... ali, numa cama de um hospital, entre cores brancas.

Sem chorar, logo aprendi que este mundo possuía regras e convenções, sendo uma destas chorar ao nascer.

Ledo engano acreditar que nascemos livres!

Prefiro acreditar como Caetano, e dizer que “Baiano não nasce, Baiano estréia”.

E solto sigo de palco em palco, mambembeando aqui e acolá!

Estreando velhos e novos papéis, de palco em palco num porvir caminhante.

domingo, 8 de julho de 2012

Bilhete à Zabelê

Poderia dizer que ainda era cedo, isto se a morte ainda perturbasse tanto.
Me recordo quando te conheci. Alegre, risonha, linda!
Hãmyando na leveza de uma pena. Serenidade com os pés firmes!
"[...] flechei, flechei lá na mata flechei! uma onça perigosa lá na mata flechei".
Fecho os olhos e você vem brincando de onça em minha direção. Minha onça encantada.
Guardo na memória a parada certa na ida e vinda para o abraço, o beijo, a bênção, o tarrão, o mãgute e a miãga. Guardo suas peripécias com os gaviões... Ah!...o cheiro fresco da macela que acabara de ser colhida.
Guardo cada ensinamento minha grande educadora!
Agora vai minha Zabelê!
Vá encantar a Mata Atlântica, Território Pataxó!
Vá hãmyá com os encantados!
Vá alegrar a Juacema!


Agosto

Em agosto plantarei flores que ficarão visíveis ao abrir da janela.
Semearei beijos, margaridas e girassóis...
Cavucarei a terra com as mãos sem calos,
E regarei pela manhã,
Quando o entardercer não me esperar...
Em agosto continuarei cavucando,
Semeando,
Plantando,
E regando.

Zé Ninguém

Chocados!
De olhos arregalados,
Anunciadores...
Um corpo sangra.

Sob olhos o círculo sangra,
Os muros o cercam,
O vigilante lhe penetra.

Homens invisíveis,
Machos desejosos,
No vaivém afunilado.

O asfalto para,
Sem faixas ele para.
Jogado, tudo parece inerte.

Um círculo acusador,
Num estado opressor.

Do outro lado dos muros,
Sem Marx, Deleuze ou Rosseau...
Um Zé Ninguém,
A espera do seu destino,
O camburão.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Trivializante

Me dirijo a ele,
Preciso me satisfazer,
É meu!
Corto, rasgo,
ponho a boca  e os dentes cerram...
Não poderia ser mais fácil?
Ponho o pé, bato firme...
Outros às vezes me curvo.
Não demora muito e está tudo cheio.
Está cheio, você não vê?
Transborda...
Preciso te levar para longe,
É mais saudável que você fique longe de mim!

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Entre Zeus e Macunaíma

Entre o rio,
O sol,
A poeira,
O cascalho...
Entre Macunaímas,
Zeus,
E leãozinhos...
A vida se tece,
E nem percebemos o casulo que estamos dentro.

Saudade

Hoje acordei pensando em você,
E chamando o teu nome,
Estás em meus pensamentos,
E em minha boca...

Ausência

Meu corpo sente tua falta,
E reclama tua ausência,
Tem se consolado com a saudade,
E com tuas marcas que ficaram em mim...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Entre Deuses e Titãs

"No mundo há mais coisas que deuses e titãs".

A vida pul-sa;
A vida gri-ta;
A vida chu-pa;
A vida dar-se;
A vida partilha-se;
A vida se goza;
A vida se orgasma.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Remagicização

Estás ali!
Entre claridades e sombras,
Há que se mirar,
Enquadrar,
E o foco? Onde está o foco?
A luz brilha em demasia,
Mas uma parte está ofuscada.
Há várias molduras,
Modernas, retrôs...
Estás ali, estou ali!
No papel, na tinta, no filme.
...estamos ali.
Numa cena fabricada,
Em sopros de magia,
Onde o mundo parece belo,
E a vida remagicizada.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Desencontros

Hoje me pediram para te esquecer. Disse que você já era!

Penso que sou um cara de sorte, geralmente se interessam por mim pessoas bacanas...Imagino que renderiam relacionamentos construtivos.

Não consigo me envolver, não consigo me entregar. Sempre esperam de mim o que não consigo oferecer...ou o que por enquanto não posso dar. O casulo está tecido com muitas linhas, linhas fiadas a mão o qual não consigo desvencilhar.

Às vezes me sinto um grande egoísta. Penso nos meus sentimentos, no meu amor, no que me faz bem. E neste olhar em mim mesmo. É o outro que está me fazendo bem. Não sei porque, mas é ele. Desculpas!

Faço sofrerem de paixão, de amores. Assim, como vivo e morro a cada segundo amando.

Acredito ser esta minha sina: um grande desencontro de amores no labirinto de mim mesmo.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O portão está aberto

Procuro ler-te em cada mensagem, analisado seus devaneios, suas dúvidas e indecisões. Você não entende, eu não entendo. Não entendemos nada. Cansei!

Uma nova vida bate à porta e o portão já está escancarado. Caem-se as correntes e os cadeados já estão abertos. O portão ainda range, o fardo pesa, mas as portas estão abertas. Esperando eu, esperando você.

Olho fotografias de momentos, de reencontros. Você permanece alí, ainda em mim. Imagens congeladas sob molduras diversas, entre estrelas, bares, cervejas, vinhos, jazz, sono e desejos.

Corro entre paixões num corredor de desejos e navego na solidão. Nossa grande amante, me debruçando em livros, teorias, fichamentos e artigos. Escuto e faço tributos, minha vida se repete. Mas o portão está aberto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(Des)hermetificando

Sinto que os sentimentos guardados,
Fechados,
Vedados,
Hermeticamente lacrados,
Estão saindo por pequenas frestas...
As frestas vão se abrindo,
E aos poucos se alargando.
E sem perceber eu estou ali:
Gemendo e sussurrando ao teu ouvido.

Vilarejo


“Há um vilarejo alí onde areja o vento” (Arnaldo Atunes)

Há um vilarejo ali escondido em minhas mil lembranças,
De sorriso escancarado e de olhar profundo,
Com meu pedido de bênção.
Café fresco e biscoito na varanda,
Meninos e meninas no corre-corre e trepa-trepa das árvores,
Um toque, uma flor...uma Maria sem vergonha,
Seriguela, mandioca frita, galinha caipira,
Cavalos trotando, cachorros e gatos por aqui e acolá.
A lenha no fogão estourando,
O sebo fritando e logo o sabão pronto.
O céu noturno ainda vivo,
Com milhares de estrelas e planetas a piscar.
Uma vaca estrela branca,
Com leite fresco na manhã seguinte...
É o vilarejo da minha infância,
Repartida nas fases piagetianas,
Que ainda me permite sonhar e criançar.

Vidigal


Parecem dois mundos distantes,
Não parecem, são dois mundos distantes.
Mas ao mesmo estão tão próximos.
O de cá onde estou sentado é bem confortável,
O ambiente está limpo,
Pessoas ditas “esteticamente” bonitas passam,
A maioria não muito simpática,
Percebo também uma certa insegurança,
Os trabalhadores ambulantes que por ali “ganham o pão” transmitem esta insegurança,
E volta e meia se escuta um dizer: “pode ficar tranquilo, sou trabalhador”.
O de ambiente de lá me desperta atenção,
As luzes brilham,
Como um balde de purpurina ali jogado,
Sei que dificilmente conseguirei ir lá desta vez,
Me perco em tua beleza noturna,
Com o barulho das ondas,
O Cheiro da maré,
E a brisa do vento,
Estou na cidade maravilhosa
Mas não é Ipanema,
Nem muito menos Copacabana,
É o Vidigal.

Compassos


Meu coração pulsa entre dois compassos,
Agora também num compasso ludovicense,
Gozada, confusa e inesperada esta vida.
O Bumba meu boi está de frente,
Entre um gingado e outro ele volta e me encara,
Fecho os olhos e vejo olhares...
Então me perco entre dois olhares.
Um dos olhares é claro,
Me sinto seguro,
O outro me desafia,
Parece sempre esperar algo,
Um próximo passo talvez!!