quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(Des)hermetificando

Sinto que os sentimentos guardados,
Fechados,
Vedados,
Hermeticamente lacrados,
Estão saindo por pequenas frestas...
As frestas vão se abrindo,
E aos poucos se alargando.
E sem perceber eu estou ali:
Gemendo e sussurrando ao teu ouvido.

Vilarejo


“Há um vilarejo alí onde areja o vento” (Arnaldo Atunes)

Há um vilarejo ali escondido em minhas mil lembranças,
De sorriso escancarado e de olhar profundo,
Com meu pedido de bênção.
Café fresco e biscoito na varanda,
Meninos e meninas no corre-corre e trepa-trepa das árvores,
Um toque, uma flor...uma Maria sem vergonha,
Seriguela, mandioca frita, galinha caipira,
Cavalos trotando, cachorros e gatos por aqui e acolá.
A lenha no fogão estourando,
O sebo fritando e logo o sabão pronto.
O céu noturno ainda vivo,
Com milhares de estrelas e planetas a piscar.
Uma vaca estrela branca,
Com leite fresco na manhã seguinte...
É o vilarejo da minha infância,
Repartida nas fases piagetianas,
Que ainda me permite sonhar e criançar.

Vidigal


Parecem dois mundos distantes,
Não parecem, são dois mundos distantes.
Mas ao mesmo estão tão próximos.
O de cá onde estou sentado é bem confortável,
O ambiente está limpo,
Pessoas ditas “esteticamente” bonitas passam,
A maioria não muito simpática,
Percebo também uma certa insegurança,
Os trabalhadores ambulantes que por ali “ganham o pão” transmitem esta insegurança,
E volta e meia se escuta um dizer: “pode ficar tranquilo, sou trabalhador”.
O de ambiente de lá me desperta atenção,
As luzes brilham,
Como um balde de purpurina ali jogado,
Sei que dificilmente conseguirei ir lá desta vez,
Me perco em tua beleza noturna,
Com o barulho das ondas,
O Cheiro da maré,
E a brisa do vento,
Estou na cidade maravilhosa
Mas não é Ipanema,
Nem muito menos Copacabana,
É o Vidigal.

Compassos


Meu coração pulsa entre dois compassos,
Agora também num compasso ludovicense,
Gozada, confusa e inesperada esta vida.
O Bumba meu boi está de frente,
Entre um gingado e outro ele volta e me encara,
Fecho os olhos e vejo olhares...
Então me perco entre dois olhares.
Um dos olhares é claro,
Me sinto seguro,
O outro me desafia,
Parece sempre esperar algo,
Um próximo passo talvez!!