Só agora parei para refletir um
pouco sobre o nosso carnaval. Já vivi muitos sentimentos contigo. Já senti você
alegre, feliz; já presenciei você com medo, angustiado... Já senti teu amor.
No carnaval, pela primeira vez eu
vi você chorar. Sempre há tempo para se permitir novas emoções. Dois choros...
Dois sentimentos... Um mesmo homem. Confesso que não fiquei à vontade vendo-o
chorar. O choro ainda está representado como algo ruim. Crescemos ouvindo:
“cala boca menino! Pare de chorar! Homem não chora! Você já está grandinho para
ficar chorando”. O choro ainda vem atrelado a algo que não deve ser cultivado.
E ver quem amamos chorando, nos causa no primeiro momento uma sensação de
impotência.
No teu primeiro choro encontrei
um homem acuado, com medo dos anos que chegam. Também já me senti assim, e às
vezes, compartilho desse sentimento. Os anos pesam, a maturidade nos exige
sempre mais e mais... E a vida é descortinada a cada dia, sem muitos dos sonhos
que outrora tínhamos na meninice. Mas a
vida é para ser vivida, para ser deliciada... Que os anos pesem, mas que não
nos tirem a doçura!
O segundo choro, este me dilacerou.
Ouvir você soluçar naquele táxi e sentir tuas lágrimas descerem me fez perceber
mais uma vez o quanto és importante e especial para mim. E a vontade era que aquela
dor e humilhação cessassem. Que eu pudesse fazer parar com minhas palavras, com
meus abraços, com meus beijos... Com o meu amor. A homofobia nos fragiliza,
mesmo sabendo que somos mais do que dizem e pensam sobre nós! E não foi fácil
lhe ver ferido e tão vulnerável.
Uma coisa esse carnaval me
possibilitou. Conhecer-te mais como ser humano, que se permite emocionar,
chorar e indignar.