domingo, 8 de julho de 2012

Bilhete à Zabelê

Poderia dizer que ainda era cedo, isto se a morte ainda perturbasse tanto.
Me recordo quando te conheci. Alegre, risonha, linda!
Hãmyando na leveza de uma pena. Serenidade com os pés firmes!
"[...] flechei, flechei lá na mata flechei! uma onça perigosa lá na mata flechei".
Fecho os olhos e você vem brincando de onça em minha direção. Minha onça encantada.
Guardo na memória a parada certa na ida e vinda para o abraço, o beijo, a bênção, o tarrão, o mãgute e a miãga. Guardo suas peripécias com os gaviões... Ah!...o cheiro fresco da macela que acabara de ser colhida.
Guardo cada ensinamento minha grande educadora!
Agora vai minha Zabelê!
Vá encantar a Mata Atlântica, Território Pataxó!
Vá hãmyá com os encantados!
Vá alegrar a Juacema!


Agosto

Em agosto plantarei flores que ficarão visíveis ao abrir da janela.
Semearei beijos, margaridas e girassóis...
Cavucarei a terra com as mãos sem calos,
E regarei pela manhã,
Quando o entardercer não me esperar...
Em agosto continuarei cavucando,
Semeando,
Plantando,
E regando.

Zé Ninguém

Chocados!
De olhos arregalados,
Anunciadores...
Um corpo sangra.

Sob olhos o círculo sangra,
Os muros o cercam,
O vigilante lhe penetra.

Homens invisíveis,
Machos desejosos,
No vaivém afunilado.

O asfalto para,
Sem faixas ele para.
Jogado, tudo parece inerte.

Um círculo acusador,
Num estado opressor.

Do outro lado dos muros,
Sem Marx, Deleuze ou Rosseau...
Um Zé Ninguém,
A espera do seu destino,
O camburão.