sábado, 26 de fevereiro de 2011

Desabafo Solitário





Sempre procurei ser o melhor. Aprendi que para vencer o preconceito precisava me destacar mais que os héteros. Daí o aluno mais aplicado, o vizinho mais atencioso e prestativo, o filho que sempre pode-se contar, o grande irmão.

Vaidade a parte, percebi que vencia o deslizes da minha orientação sexual pela dedicação aos estudos e ao profissionalismo que sempre me ensinaram a prezar. Ainda não me declarei homossexual para minha mãe, mas ela sabe! seu carinho, seu cuidado especial, seu olhar e seu toque me mostra que ela sabe. Ás vezes ensaio e chego para ir contar, mas percebo que já contei há muito tempo por outras maneiras. Mas fica a interrogação, mania esta de querer colocar em palavras tudo.

Hoje, inserido nesta sociedade heteronormativa percebo sua preocupação excessiva comigo, para que eu me dedicasse sempre com muito esforço a tudo que eu fosse fazer, um tratamento diferenciado dos meus dois irmãos e minha irmã. Como uma preparação para que eu enfrentasse e minimizasse meu sofrimento diante do preconceito.

Esta semana sofri, tive medo! Medo de descobrir que não sou o melhor. E não sou mesmo! Tive medo de não atender as expectativas e os sonhos depositados em mim. Me vi diante da solidão, me vi só, como nunca havia sentido. Mesmo diante de tantas pessoas estava só. Chorei, gritei!

Desejei ter tantas pessoas queridas por perto e a cada rosto lembrado a saudade rasgava-me o peito como uma navalha. Hoje que parece tudo ter passado, ainda continuo com medo. Me dei conta do que fizeram de mim, me dei conta do escravo que sou em alimentar este estereótipo “clean e cult” que a sociedade heteronormativa cobra para que sejamos aceitos como homossexuais.



Um comentário:

Anônimo disse...

Somos o que somos, Paulo: inclassificáveis.

Necessário o desabafo. Não desabe.