E ela veio assim ao mundo, fecundada entre Deus e o Diabo. Fruto do amor entre os dois. Aos nove anos, menina franzina, pernas cinzentas e cabelos esvoaçados, teve seu hímen rompido pelo membro de seu pai. No mergulho do teu pai em seu corpo a infância foi ceifada e logo sua meninice se transformou na formosura do prostíbulo.
De menina à quenga, mulher da vida. Cheiro de alfazema misturado ao cigarro barato; cachaça e conhaque para acalmar a alma e tornar a menina obscena. Abre porta e fecha porta, no colchão empoeirado, sob lençóis úmidos de gozos e o odor da borracha dos preservativos gastos e outros jogados ao chão pela recusa e o pagamento maior dado pelo cliente. E ali ela se fez mulher, se fez Eva, Maria, Marta, Madalena... Fez-se Estamira.
O bordel foi a escola, espaço de diálogo, de sonhos, decepções e aprendizados. Sua decodificação e letramento foram além da lingüística, sendo estes contextualizados numa sociolingüística do seu cotidiano. E entre rolas, chanas, paus, cus, pirocas, peitos, bucetas, picas e mamilos seu vocabulário foi se formando. Sua semiótica se deu entre os índices dos olhares, com a leitura dos corpos que volupiavam num vai e vem contínuo entre sussurros, gemidos e desejos sob tua pele.
De tanto abrir as pernas colocou no mundo outros seres. Dizem que são pessoas, gentes, humanos; outros acreditam que são ciborgues. E assim foi seguindo tua sina, tecida entre o trigo e o enxofre.
Nas esquinas do ser, novas paisagens foram se apresentando. E ali está ela, não mais menina, nem mulher. Para muitos um farrapo, para outros uma louca, uma possuída, para ela uma profeta em meio aos lixos. A profeta do Jardim Gramacho. Lixo seu, lixo meu, lixo nosso que se transformou em teu mundo, no teu sustento; Sua nova escola sem bancos, sem quadros e canetas. Novamente uma escola da margem, sem os olhos do estado e com seus saberes particulares. Mas quem tem coragem para construir suas próprias escolas? Para perseguir ou perder a mira? Quem tem coragem para largar o rumo e seguir caminhos contrários? Quem tem coragem para fazer do sêmen do seu pai uma lama fecunda?
Sair da norma, devanear... Será isto a loucura?
Dopou-se com lucidez, e entre um gardenal e um rivoltril rompeu manicômios, destruiu prisões e construiu suas escolas. Matou Deus e se fez sua semelhante, construindo-se como divina. Quem ousa ocupar o lugar de Deus se fazendo santo, profeta e humano?
Em sua ocupação dos espaços divinos sua vida foi seguindo nos entulhos, na ojeriza dos pastores, nos ralos que se misturaram aos calos do teu fazer humano, e de repente se tornou Deusa, se tornou humana, padecendo numa fila qualquer, numa maca qualquer, de um hospital qualquer com um SUS qualquer.
De menina à puta, de puta à Deusa. De Deusa à diabética.
De menina à quenga, mulher da vida. Cheiro de alfazema misturado ao cigarro barato; cachaça e conhaque para acalmar a alma e tornar a menina obscena. Abre porta e fecha porta, no colchão empoeirado, sob lençóis úmidos de gozos e o odor da borracha dos preservativos gastos e outros jogados ao chão pela recusa e o pagamento maior dado pelo cliente. E ali ela se fez mulher, se fez Eva, Maria, Marta, Madalena... Fez-se Estamira.
O bordel foi a escola, espaço de diálogo, de sonhos, decepções e aprendizados. Sua decodificação e letramento foram além da lingüística, sendo estes contextualizados numa sociolingüística do seu cotidiano. E entre rolas, chanas, paus, cus, pirocas, peitos, bucetas, picas e mamilos seu vocabulário foi se formando. Sua semiótica se deu entre os índices dos olhares, com a leitura dos corpos que volupiavam num vai e vem contínuo entre sussurros, gemidos e desejos sob tua pele.
De tanto abrir as pernas colocou no mundo outros seres. Dizem que são pessoas, gentes, humanos; outros acreditam que são ciborgues. E assim foi seguindo tua sina, tecida entre o trigo e o enxofre.
Nas esquinas do ser, novas paisagens foram se apresentando. E ali está ela, não mais menina, nem mulher. Para muitos um farrapo, para outros uma louca, uma possuída, para ela uma profeta em meio aos lixos. A profeta do Jardim Gramacho. Lixo seu, lixo meu, lixo nosso que se transformou em teu mundo, no teu sustento; Sua nova escola sem bancos, sem quadros e canetas. Novamente uma escola da margem, sem os olhos do estado e com seus saberes particulares. Mas quem tem coragem para construir suas próprias escolas? Para perseguir ou perder a mira? Quem tem coragem para largar o rumo e seguir caminhos contrários? Quem tem coragem para fazer do sêmen do seu pai uma lama fecunda?
Sair da norma, devanear... Será isto a loucura?
Dopou-se com lucidez, e entre um gardenal e um rivoltril rompeu manicômios, destruiu prisões e construiu suas escolas. Matou Deus e se fez sua semelhante, construindo-se como divina. Quem ousa ocupar o lugar de Deus se fazendo santo, profeta e humano?
Em sua ocupação dos espaços divinos sua vida foi seguindo nos entulhos, na ojeriza dos pastores, nos ralos que se misturaram aos calos do teu fazer humano, e de repente se tornou Deusa, se tornou humana, padecendo numa fila qualquer, numa maca qualquer, de um hospital qualquer com um SUS qualquer.
De menina à puta, de puta à Deusa. De Deusa à diabética.
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