sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Eu sem mim...

Hoje quando o celular rompeu o silêncio do quarto me despertando às 07h. 00 eu já me levantei sem mim...mas em qual sonho fui parar?

Faltava-me a libido matinal, não precisando me preocupar em consertar o pênis na cueca samba-canção, minha companheira de desejos e segredos das noites solitárias. E não precisava mesmo, o apartamento estava vazio, sem ruídos, sem pessoas... nem eu mesmo estava ali.
A sandália parece não querer encaixar-se no pé, mas meu pé continua o mesmo, não cresceu, não está inchado, preciso que se encaixe, tenho que andar.
Escovar os dentes, descascar banana e comer mamão. Hoje isto já basta! Não tem cuzcuz, ovo frito e muito menos café. Este café já não me satisfaz, não tem mais sabor! Quero café moído na hora e coado num saco, quero cheiro de mim, que também tem cheiro de ti. Mas por agora basta, não há vontade, me falta o tesão.
A velha calça jeans, não muito surrada, mas já desbotada me espera à cabeceira da cama; e mais uma vez me perco na dúvida de qual camisa vestir. Acho que esta ficou boa, parece comigo. Estranho... me sinto apertado. Não, não quero camisa de força, vou sem você!
Diante do espelho tudo fica melhor, está refletido, o espelho não mente. A barba está rala e falhada. Não consigo espalhar, quanto mais minha mão acaricia o meu rosto já quente, mais eu me lambuzo com este líquido branco. E as manchas brancas pelo rosto me trazem à memória fantasias; mas são apenas fantasias, o cheiro do produto não me deixa enganar. É protetor solar e não esperma! Não é seu esperma, nem mesmo o meu.
Chega de fantasias! A rua se abre, a vida chama, pessoas me esperam. Mas onde estou? Hoje não estou em mim, não estou em ti. Onde fui parar?
O dia acabara de começar e o óculos esconde meus olhos, pessoas me olham, falam comigo e damos risadas. Elogios hoje não me envaidecem, não estou em mim. Sou isto tudo não, mas se é o que vocês pensam, obrigado!Sempre acho que sou totalmente o contrário do que pensam de mim... hoje então, não me vejo mesmo, não me encontro.
E já se passaram 300 anos e eu aqui sentado, ouvindo e refletindo Rousseau... os mesmos dilemas, as mesmas dúvidas. O que se fazer com o ser humano?
Não há estética! Mataram a arte, Deus está morto!
Por favor, o que é isto? Estou no ambiente errado? É uma igreja ou uma universidade? Eu devo mesmo não estar em mim.
Eu não estou em mim, e por que você me observa? Por que me fita com teu olhar que me desnuda em teu sorriso caçador? Hoje não estou para caça... não estou no cio, meu cheiro exala ausência.
Seu galanteio me incomoda. Hoje definitivamente não estou em mim. Meu sorriso não é este, e meu olhar é outro. Não, não posso ficar! Não quero ficar. Você não vê? Não estou em mim. Minha existência é lacunar, hoje não estou em mim... e amanhã você poderá não estar também.

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