A noite estava tranquila e quente
como a maioria das noites em Aracaju. Encontro-me na sala, no meu lugar cativo,
sentado com os pés em cima do sofá diante do computador. No chão, livros e
textos avulsos em meio às almofadas. Na janela, as estrelas aparecem gradeadas,
e eu as contemplo num ir e vir do sofá.
Por um momento penso que estou
sozinho no apartamento, mas logo escuto o barulho no quarto ao lado, e o cheiro
de sexo entra em minhas narinas. Concentro-me na escrita de mais um artigo e
deixo tudo passar. A vida acadêmica tem sido minha a melhor companhia.
Tudo parece muito calmo novamente,
sem barulhos e cheiros. Reinando apenas os livros, a escrita e eu.
O celular toca e é você. Você que
some e de tempos em tempos reaparece ao perceber que não ligarei, que não o
procurarei. Mas que sentimento é esse que lhe faz autoflagelar diante de mim?
Por um momento, ao olhar o teu nome no visor penso se devo atender ou não. E me
pergunto: O que seria mais desastroso, atender ou não atender? Atendo e você
vem com a voz mansa, perguntando como estou, se estou bem. A conversa parece
tomar um rumo comum, sem muitas novidades e exageros, mesmo você insistindo em
me dizer que estás bem, que estás namorando, que te encontras feliz.
A conversa poderia acabar ali,
você me dizendo que está feliz. Mas você insiste em me dizer mais, você quer
colocar pra fora o que ainda está guardado em ti. Eu lhe provoco e você começa
a externar o lacrado, o indizível e o sentido.
Eu lhe permito falar de amor, e você
arvora a dizer como se só você soubesse falar deste sentimento que nos
idiotiza, fragiliza e que nos torna humano. Você vai mais longe e diz que nunca
amei ninguém, que sou frio e calculista, agindo sempre pela razão. Mas o que
você sabe falar sobre o meu amor? O que você pode dizer sobre a minha dor?
Carrego meus amores nas entranhas sem um útero fecundado.
Por hoje não basta, você quer
falar mais. Quer gritar ao mundo que me odeia e pede ao teu deus que livre o
mundo do meu amor. Mas você não é mundo, e que teu deus apenas te livre de mim.
Você é provocante, e eu respondo
com risadas e sarcasmo. Falo-te de nossas transas e vou jogando com você. O
amor também é jogo! O tabuleiro está virando e você já se encontra rendido.
Rendido pelas lembranças do meu cheiro, do meu toque, dos meus beijos e do meu
sexo. Mas eu quero ouvir mais, agora estou no controle, puxando as cordas. Vai,
diga que você me quer, que me deseja e que minha lembrança lhe persegue.
Você não resiste, sinto teu corpo
tremer do outro lado da linha. Você me quer e diz com todas as letras me
chamando de cafajeste. Mas o que é o amor senão este sentimento que nos
idiotiza e nos torna cafajeste?
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